O Que É o Transtorno Bipolar do Humor?

mudanças de humor intensas

O que é o Transtorno Bipolar do Humor? Minha vivência e aprendizados

Durante boa parte da minha vida, eu achava que as minhas mudanças de humor intensas eram apenas traços da minha personalidade. Até o dia em que recebi o diagnóstico: Transtorno Bipolar do Humor. Hoje, depois de muita pesquisa, vivência e acompanhamento psiquiátrico, posso compartilhar com você — de forma simples, honesta e humana — o que aprendi sobre essa condição tão complexa e, ao mesmo tempo, cercada de mitos.

O que é, afinal, o transtorno bipolar?

O transtorno bipolar é um transtorno mental caracterizado por alterações intensas no humor, na energia e na capacidade de funcionamento. Essas oscilações vão muito além das variações normais que todos temos. Elas se manifestam em episódios de mania, hipomania ou depressão profunda.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 45 milhões de pessoas no mundo vivem com esse transtorno. No Brasil, embora os dados ainda sejam subnotificados, estima-se que 1% a 2% da população possa ser afetada, o que representa milhões de pessoas enfrentando esse desafio muitas vezes em silêncio.

Essas oscilações não seguem um padrão fixo. Há quem fique semanas em depressão profunda e depois tenha apenas alguns dias de hipomania. E há também quem passe por ciclos rápidos, alternando os dois estados em questão de dias ou até horas — o que é chamado de ciclador rápido. No meu caso, levei anos para entender o padrão dos meus ciclos, e só consegui isso com acompanhamento profissional e autoconhecimento.

Leia também: Como é a dor da depressão – relato pessoal

Tipos de transtorno bipolar

Nem todo transtorno bipolar é igual. No meu caso, fui diagnosticado com o Transtorno Bipolar tipo II, caracterizado por episódios depressivos e hipomaníacos (mais leves que a mania). Mas existem outras variações:

  • Tipo I: com episódios de mania mais intensos, podendo até exigir internação.
  • Tipo II: alternância entre depressão profunda e hipomania.
  • Ciclotimia: oscilações mais leves, porém persistentes, por longos períodos.
  • Transtorno Bipolar Não Especificado: quando os sintomas não se encaixam perfeitamente nas categorias anteriores, mas ainda assim causam sofrimento significativo.

Leia também: Diferença entre Bipolar Tipo I e Tipo II

Como é um episódio maníaco ou hipomaníaco?

Posso dizer com sinceridade: a euforia da hipomania engana. A mente acelera, surgem mil ideias, planos, uma sensação de invencibilidade. Mas logo vêm as consequências: decisões impulsivas, gastos irresponsáveis, falas fora de hora, noites sem dormir. É um falso brilho.

A mania (que eu nunca experimentei pessoalmente) pode ser ainda mais intensa: delírios de grandeza, agressividade, fuga da realidade. Algumas pessoas precisam de ajuda médica urgente nesse estágio. Já ouvi relatos de pessoas que largaram tudo durante um surto maníaco acreditando que estavam prestes a realizar feitos grandiosos — e depois, na fase depressiva, vieram a culpa e o arrependimento.

Leia também: Quando a hipomania parece um superpoder

E a depressão?

A depressão bipolar não é apenas tristeza. É uma paralisação interna. Perdi o gosto pelas coisas que eu mais amava. Tinha dias em que sair da cama era uma batalha. Pensamentos negativos insistentes, sensação de inutilidade, culpa — e uma dor emocional que, muitas vezes, nem consigo explicar com palavras.

É comum as pessoas confundirem essa fase com "preguiça" ou falta de força de vontade. Mas não é isso. Trata-se de um sofrimento psíquico profundo que afeta a concentração, o apetite, o sono e a percepção de valor da própria vida.

Leia também: Como a depressão rouba a identidade de quem sofre

Quais são as causas?

A ciência ainda não tem todas as respostas. O que se sabe é que há uma combinação de fatores genéticos, neuroquímicos e ambientais. No meu caso, há histórico na família e, com o tempo, percebi que situações de estresse e uso de substâncias agravavam os sintomas.

A neurobiologia do transtorno sugere alterações na regulação de neurotransmissores como dopamina, serotonina e noradrenalina, que afetam diretamente o humor e o comportamento. Além disso, estressores ambientais como traumas na infância, luto ou relacionamentos abusivos podem funcionar como gatilhos.

Artigo: Fatores de risco do transtorno bipolar - Revista Brasileira de Psiquiatria

Como é o tratamento?

O tratamento salvou minha vida — literalmente. Passei a tomar estabilizadores de humor, como o lítio (sob supervisão médica), e a fazer psicoterapia. A combinação das duas abordagens foi essencial. Também tentei antidepressivos, mas descobri que podem ser perigosos para quem tem bipolaridade se usados sozinhos, pois podem induzir episódios maníacos.

Além disso, mudanças no estilo de vida foram indispensáveis:

  • Respeitar horários de sono (a privação me desregula completamente);
  • Evitar álcool e drogas (algo que também enfrentei por anos);
  • Meditação e atividade física regular;
  • Monitoramento contínuo dos sintomas, com registro de humor.

Leia também: A importância do sono para quem tem transtorno bipolar

Outras opções incluem o uso de antipsicóticos atípicos, como quetiapina ou olanzapina, em fases de maior instabilidade, sempre sob prescrição médica. Em casos mais graves, a eletroconvulsoterapia (ECT) ainda é indicada e tem eficácia reconhecida.

Artigo técnico: Diretrizes da ABP sobre o tratamento do transtorno bipolar

O que me ajudou a continuar

Foi fundamental aprender a aceitar meu diagnóstico. No início, houve muita negação, medo de rótulos. Mas a informação e o apoio (inclusive de outras pessoas que passaram pelo mesmo) fizeram toda a diferença.

Participei de grupos de apoio online, li relatos de outros pacientes e me inspirei em pessoas que conseguiram encontrar equilíbrio. Isso foi transformador. E foi daí que nasceu a ideia de escrever este blog.

Estigma e preconceito: ainda precisamos falar sobre isso

Um dos maiores obstáculos que enfrentei não foi o transtorno em si, mas o estigma. Ouvi de colegas que era \"frescura\" ou que eu precisava de \"mais fé\". Também fui mal interpretado em ambientes de trabalho e até por médicos que não entendiam a complexidade da bipolaridade.

Precisamos urgentemente falar sobre saúde mental com mais responsabilidade. Transtornos mentais são reais, tratáveis e não definem quem somos. Compartilhar nossas vivências é uma forma de resistir ao silêncio imposto pelo preconceito.

Leia também: Viver com um diagnóstico psiquiátrico no Brasil

Por que compartilhar?

Porque sei o quanto é solitário enfrentar algo que nem sempre é visível. Porque sei que o preconceito ainda existe. Porque quero que outras pessoas saibam que não estão sozinhas.

E, acima de tudo, porque viver com transtorno bipolar é possível — e viver bem. Se você está passando por isso, saiba que há caminhos, há ajuda, há esperança.


Referências confiáveis para aprofundar:


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