A História do Transtorno Bipolar ao Longo do Tempo

Transtorno Bipolar ao Longo do Tempo

Minha Curiosidade Virou Jornada: A História do Transtorno Bipolar ao Longo do Tempo

Não sei você, mas desde que recebi o diagnóstico de transtorno bipolar, comecei a me perguntar como seria isso no passado. Tipo... será que alguém, há mil anos, também se sentia como eu me sinto nos dias em que estou lá no alto ou no fundo do poço?

Foi aí que resolvi fuçar. Pesquisei, li tudo o que pude e, cara, o que encontrei me surpreendeu demais. A bipolaridade pode até ter ganhado esse nome há poucas décadas, mas ela já dava sinais desde a Grécia Antiga.

Os Antigos Já Sabiam que o Humor Muda — E Muito

Hipócrates

Lá no século V a.C., tinha um cara chamado Hipócrates, que todo mundo conhece como o “pai da medicina”. Ele acreditava que a gente era regido por quatro líquidos dentro do corpo — os famosos “humores”. Quando eles estavam em equilíbrio, tudo certo. Mas se algum deles ficasse em excesso, aí a coisa desandava.

A melancolia, por exemplo, era culpa da tal bile negra. E essa tristeza profunda que ele descrevia… olha, parecia muito com o que a gente sente num episódio depressivo. Por outro lado, ele falava que muito sangue deixava a pessoa animada, agitada, quase fora de controle. Não te lembra um pouco a mania?

Eu li aquilo e pensei: “Cara… ele tá descrevendo a gente, só não sabia ainda como chamar.”

Aretaeus e a Primeira Pista de que Era Tudo a Mesma Coisa

Areateus de Capadócia

Avançando um pouco no tempo, no século I d.C., aparece um médico chamado Aretaeus de Capadócia. Esse cara foi sagaz. Ele percebeu que algumas pessoas alternavam entre estados de tristeza profunda e euforia intensa. E, detalhe: ele achava que essas duas fases faziam parte da mesma condição.

Fiquei arrepiado lendo isso. Porque ele viu, lá atrás, o que muita gente só começou a aceitar bem depois: que a bipolaridade não é só “hora feliz, hora triste” — é um ciclo que se repete, muitas vezes sem explicação clara.

No Meio da Fé e da Culpa: O Olhar Medieval

São Tomás de Aquino

A Idade Média foi um capítulo à parte. Nessa época, a maioria das coisas diferentes era tratada com medo. Muita gente acreditava que quem sofria com crises de humor estava sendo castigado por Deus, ou até possuído. Pesado, né?

Mas aí entra um nome que me chamou atenção: São Tomás de Aquino, um dos grandes pensadores do século XIII. Ele falava sobre algo chamado “acídia”, um tipo de tristeza profunda que deixava a pessoa paralisada. Segundo o professor Jean Lauand, da USP, isso lembra muito a depressão como a gente conhece hoje. E olha que curioso: Aquino também falava sobre estados de excitação e impulso.

Será que ele já sacava que essas oscilações tinham algo em comum? Pode ser. Mas o mais legal foi ver que, mesmo sem saber o nome, as pessoas já percebiam que algo não estava certo ali.

O Renascimento Abriu Espaço para a Observação

Já no Renascimento, as coisas começaram a mudar. A ciência começou a ganhar mais respeito e a galera passou a observar mais o comportamento humano, sem julgar tanto.

Andrés Piquer

Li sobre um médico espanhol do século XVIII chamado Andrés Piquer, que descreveu um rei passando por períodos de melancolia e outros de euforia extrema. E foi aí que me dei conta: a bipolaridade sempre esteve aqui. Só que antes, a gente não tinha as palavras — só a experiência.

O Século XIX: Quando Deram Nome ao Que Sentimos

Se teve um momento em que tudo começou a ganhar forma, foi no século XIX. Dois médicos franceses mudaram o jogo: Jean-Pierre Falret e Jules Baillarger.

Falret chamou de "folie circulaire" — uma loucura circular. Baillarger usou o termo "folie à double forme" — ou seja, loucura de duas formas. Eles viram que algumas pessoas passavam por fases de depressão e depois mania. E que isso se repetia.

Sabe o que senti lendo isso? Um alívio. Porque percebi que não era só comigo. Que outras pessoas já tinham vivido essas mesmas montanhas-russas emocionais. E que, aos poucos, o mundo estava começando a entender.

Kraepelin e a Organização do Que Já Era Conhecido

Emil Kraepelin

Pouco depois, apareceu o alemão Emil Kraepelin. Ele foi tipo o “organizador do quebra-cabeça”. Observou pacientes por anos e percebeu padrões. Deu o nome de psicose maníaco-depressiva.

Foi a primeira vez que a coisa ganhou um lugar dentro da psiquiatria de verdade. Não era mais só uma “loucura”, nem algo espiritual. Era uma condição médica com sintomas, fases e, finalmente, uma explicação.

O Nome “Transtorno Bipolar” Finalmente Surge

Karl Leonhard

Já em meados do século XX, o psiquiatra Karl Leonhard sugeriu o termo que usamos até hoje: transtorno bipolar. E só em 1980 ele entrou oficialmente nos manuais médicos.

E olha... quando li isso num livro, quando vi aquela definição ali escrita, foi como encontrar meu lugar no mundo. Era como se alguém dissesse: “A gente sabe o que é isso. Você não está sozinho.”

O Que Realmente Significa Ser Bipolar?

Bom... agora falando de mim: viver com bipolaridade é como estar preso num pêndulo emocional que nunca para. Tem dia que acordo achando que sou invencível. Falo demais, penso rápido, gasto dinheiro sem pensar. Me sinto iluminado.

Mas tem dia que levantar da cama parece uma missão impossível. É um vazio que engole tudo — até a vontade de existir.

A gente oscila entre mania, depressão e, às vezes, um estado neutro no meio disso tudo. E o pior? Muitas vezes não tem gatilho nenhum. Simplesmente acontece.

Como Dá Pra Levar a Vida com Isso?

Leva. Dá sim. Mas com tratamento, consciência e muita paciência.

Hoje eu tomo estabilizadores de humor. Faço terapia. Cuido do sono e da alimentação (apesar de nem sempre conseguir). E o mais importante: aprendi a me observar.

Saber quando estou acelerando demais ou ficando tempo demais sem reagir faz toda a diferença. Às vezes consigo frear a tempo. Outras vezes, não. E tudo bem. O importante é continuar.

Quebrando o Estigma: Falar Salva

Mesmo hoje, com tanta informação, ainda rola muito preconceito. Já ouvi coisas como “bipolar é perigoso”, “é doido”, “não dá pra confiar”. Já me calei por medo de perder oportunidades ou amizades.

Mas hoje eu falo. Falo porque calado eu adoeço mais. Falo porque cada vez que alguém se reconhece, nasce uma chance de cuidado.

Gente Famosa Também Vive Isso

Sabe quem mais vive com isso? Gente como a Demi Lovato, o Jean-Claude Van Damme, a Catherine Zeta-Jones... e acredita-se que até o Van Gogh era bipolar, além de Santos Dumont, mas isto já é história para outra matéria. Não à toa, o Dia Mundial do Transtorno Bipolar é no dia 30 de março, data de nascimento de Van Gogh.

Ver essas pessoas falando abertamente sobre isso me deu forças. Não estamos sozinhos — nunca estivemos.

Conclusão: O Que Aprendi com Essa Viagem no Tempo

Se tem uma coisa que aprendi pesquisando tudo isso, é que a bipolaridade sempre esteve entre nós. Desde os gregos até hoje, passando por médicos, monges, reis e artistas.

O nome mudou, a forma de tratar evoluiu, mas a experiência… ah, essa segue a mesma. Intensa, profunda, difícil — e, sim, possível de viver com dignidade.

Se você também sente isso, ou conhece alguém que sente, saiba: existe luz no fim do ciclo. E você não está só.



Referências




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