Como Saber o Que é Mania e Hipomania: Um Olhar Real, Sentido e Vivido
Ainda me lembro de como tudo parecia estar indo bem. Eu dormia pouco, tinha mil ideias borbulhando na cabeça, me sentia invencível. Era como se o mundo inteiro tivesse ligado as luzes e me dado palco. Eu estava no meu melhor momento — até tudo começar a desmoronar. É sobre isso que precisamos falar quando tratamos de mania e hipomania: não é só sobre energia, é sobre o que ela pode esconder.
Neste artigo, vamos entender esses dois estados do transtorno bipolar, não apenas com base em manuais, mas também com os sentimentos e confusões reais que os acompanham. Contamos com os ensinamentos da Dra. Tracey Marks, psiquiatra americana, e relatos de quem viveu isso na pele.
O Que São Mania e Hipomania?
De forma simples, a mania é um estado em que a mente acelera demais. Você se sente poderoso, fala sem parar, dorme pouquíssimo e toma decisões perigosas. Já a hipomania é como uma versão "mais leve" disso. Ainda há muita energia, excitação e criatividade, mas sem que a pessoa, num primeiro momento, pareça estar fora da realidade. O problema? Muitas vezes ela está — só que por dentro.
Segundo a Dra. Marks: “A presença de mania ou hipomania é o que define o diagnóstico de transtorno bipolar. Se não houve nenhum episódio elevado de humor, não é bipolaridade.”
Diferença Técnica, Mas Com Consequências Reais
Pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5):
- Mania: dura pelo menos 7 dias ou qualquer tempo se for tão grave a ponto de exigir hospitalização. Há euforia, irritabilidade, energia extrema e pode haver psicose.
- Hipomania: dura no mínimo 4 dias, tem sintomas parecidos, mas sem psicose nem prejuízo severo. Parece mais leve — e talvez por isso mais traiçoeira.
A mania destrói rápido. A hipomania pode destruir aos poucos.
Sintomas Que Não São Só Palavras
A Dra. Marks aponta sete sintomas principais para identificar esses estados:
- Autoestima nas alturas (às vezes beirando a grandiosidade)
- Pouca ou nenhuma necessidade de sono
- Fala acelerada
- Pensamentos que fogem ao controle
- Distração constante
- Ações compulsivas e orientadas a metas (nem sempre realistas)
- Atitudes impulsivas: sexo sem proteção, gastos excessivos, comportamentos de risco
Quem vê de fora pode achar que a pessoa só está animada, criativa, determinada. Mas por dentro, há um vulcão prestes a explodir.
Do Sonho ao Surto: Um Exemplo Real
Imagine alguém que passa noites em claro planejando um novo negócio, cheio de empolgação, pulando refeições, sem sentir cansaço. Isso pode ser hipomania. Agora imagine essa mesma pessoa começando a escrever cartas para o presidente, acreditando ter sido chamada para governar o país. Isso já é mania.
“Se você está ótimo demais, não dorme há dias e acha que vai salvar o mundo, talvez não seja só entusiasmo”, alerta a psiquiatra.
Psicose: O Sinal de Alerta
A psicose — quando a pessoa vê ou ouve coisas que não existem ou acredita em ideias absurdas com convicção — é um divisor de águas. Se ela aparece, estamos falando de mania. A hipomania não chega até esse ponto. Mas isso não quer dizer que ela seja inofensiva.
Exemplo clássico: ouvir alguém dizer “projeções de vendas” e achar que é um plano secreto para te prejudicar. Isso é delírio, e sinaliza um episódio maníaco.
A Linha Tênue Entre o Tipo I e o Tipo II
O diagnóstico também muda com o tempo. Quem já teve mania é classificado como bipolar tipo I. Quem teve apenas hipomania, como tipo II. Mas alguém com tipo II pode, eventualmente, viver um episódio maníaco e migrar para o tipo I. O contrário não acontece.
Relatos Que Mostram o Que os Livros Não Dizem
“Durante meus episódios hipomaníacos, eu parecia uma máquina. Trabalhava dobrado, era querido por todos. Mas por dentro, algo me dizia que aquilo ia acabar mal. E sempre acabava.”
“Na mania, tudo era exagerado: brigas, compras, ideias malucas. Só fui entender o que estava acontecendo depois da internação.”
Tratamento: Porque Não Dá Para Enfrentar Sozinho
Ninguém vence o transtorno bipolar apenas com força de vontade. É preciso ajuda:
- Medicamentos: estabilizadores de humor (como lítio), antipsicóticos (como quetiapina) e, em alguns casos, antidepressivos (com muito cuidado).
- Psicoterapia: especialmente terapia cognitivo-comportamental (TCC) e terapia interpessoal e de ritmo social.
- Mudança de estilo de vida: rotina de sono, evitar álcool e drogas, praticar exercícios.
Recursos de Apoio Que Podem Salvar Vidas
Conclusão: Informação Também é Tratamento
Saber diferenciar mania e hipomania não é só coisa de médico. É ferramenta para quem vive com transtorno bipolar, para familiares, amigos e até para profissionais que ainda não se sentem confortáveis com o tema.
Falar sobre isso com franqueza, emoção e empatia é o primeiro passo. O diagnóstico muda a vida, mas o acolhimento muda o coração.
Se você suspeita que algo está diferente — seja em você, seja em alguém próximo —, procure ajuda. Acredite: o começo pode ser difícil, mas continuar sem apoio é ainda mais.
Este texto é dedicado a todas as pessoas que, mesmo nos seus piores dias, continuam tentando. Você não está sozinho.